Um grito de indignação dos sem poder
Quando o Núcleo Todos pelo Bem Comum começou a se reunir virtualmente e, em conversas, fazia análise da conjuntura no Brasil e no mundo, foi pego pela terrível notícia de 100 mil mortos pela pandemia do COVID-19, no dia 08/08/2020. Era, e continua sendo, um número inaceitável de mortes em tempos de paz. Pessoas e instituições precisavam ser responsabilizadas. Não era possível tratar 100 mil mortes como sendo algo corriqueiro. Não eram aceitáveis respostas à situação como “E daí?”, “Eu não sou coveiro”, ou uma bravata qualquer.
Passados 200 dias, chegamos a mais de 250 mil mortos! E parece que, apesar da vacina, notícia que nos enche de esperança, nada mudou.
Na mesma semana de tão graves índices, tivemos o grotesco espetáculo da posse dos ministros Onyx Lorenzoni e João Roma, em Brasília: aglomeração, digna de um baile funk nas periferias das grandes cidades, de “autoridades”, sem máscaras, num espetáculo de desprezo à vida humana, pois a posse poderia ter sido feita em evento virtual. Mas era preciso mostrar o desprezo por medidas de segurança, era importante marcar posição contra a vida.
Não bastasse isso, uma remessa de vacinas que deveria ter ido para o Amazonas (estado com problemas seríssimos de contaminação e mortes de pessoas, assunto diário de todos os jornais e de todas as conversas sobre imunização), foi parar no Amapá. E as doses do Amapá foram para o Amazonas. Em que mundo vivem os seres humanos que cometem esse tipo de “equívoco” em situação tão limítrofe? Em resposta, o pronunciamento oficial foi: silêncio… Um “E daí?” teria sido mais honesto.
Não para por aí. Na mesma semana, o presidente em ofício nos “brindou”, em sua live, com a “informação científica” de que o uso de máscaras pode causar problemas, especialmente em crianças. Essa, nem os bêbados dos churrascos pós-futebol assinariam, seria motivo de risada. A informação se baseou em pesquisa, sem embasamento científico. O problema é que essa fala foi real e de autoria do Presidente da República do Brasil. Ele se porta como garoto propaganda da morte, promovida pelo Estado, seja por meio de armas, de omissões, ou de ações coordenadas que inviabilizam a compra de vacinas a tempo de salvar vidas.
Ainda vimos o triste espetáculo dos deputados em busca de mais imunidade, não pela vacinação, mas por uma mudança na Constituição para deixá-los mais livres para afrontar a própria Constituição.
Finalmente, no dia 25 de fevereiro, batemos o triste recorde de mortes reconhecidas: 1.582 pessoas em 24 horas, um pouco mais de uma pessoa por minuto, cerca de 11 pessoas a cada 10 minutos. Pense bem, se você demorar 10 minutos pra ler esse texto, mais 11 pessoas terão morrido durante a leitura.
Semana difícil!
Nós não estamos mais esperando um plano de crescimento para o Brasil. Sabemos que os atuais ministros são incapazes. Não, não esperamos um plano de imunização: além de incapazes, os atuais encarregados não sabem geografia e sequer estão preocupados. Não, não esperamos ações por parte deste governo para conter o desmatamento de nossas florestas, para evitar mortes e atentados à vida. Não, não esperamos nada desse poder constituído! Temos que sobreviver até o final de toda essa incompetência administrativa. Mas um pouco de humanidade, de compaixão pelos que sofrem, é lícito esperar.
Que o legado da pandemia para o Brasil não seja um sonoro grito de “E daí?” por 210 milhões de pessoas, mesmo em contato com o sofrimento de tanta gente. Se já somos um país cada vez mais pária mundial, que não sejamos um país de párias humanos, que justificam o injustificável, que não se importam com a vida, que não se importam com um projeto de futuro, que não se importam com os mais fracos. Que não sejamos um país quase repugnante.
Ainda acreditamos que há uma maioria silenciosa, sem poder, que não aceita a barbárie imposta. Mas é preciso passarmos do silêncio para o desabafo. Está mais do que na hora de começarmos a gritar de indignação, tão alto que abafemos o enorme “E daí?”, e o transformemos em “Nós nos importamos“.
Resistir é uma imposição de humanidade nesse momento. Chega de escárnio, chega de zombarias, chega de incompetência. Indigne-se!
Colaboração de Pedro Gimene
Matilde Costa Gomes
01/03/2021 @ 06:30
Esse desabafo me representa diante da dor pela perda de minha mãe para o covid.
Mas a realidade na minha família é oposta à essas questões porque os que são bolsonaristas continuam achando exagero da mídia.
Alguns até jogam a mim, a responsabilidade de não ter tomado as devidas providências pata evitar a morte de minha mãe.
Portanto, quem apoia esse demente, mesmo passando por uma situação de morte não reconhecem a responsabilidade desse governo. Preferem culpar outros.
Simone de Souza Secco Apolinário
01/03/2021 @ 07:24
Muito mais que escarnio sobre a vida Humana, manobra política para detonar os governos locais de cada região do país, sob o conluio de parlamentares q só pensam em imunizar a impunidade, sim imunizar a própria pele da impunidade deste inferno dantesco que assistimos em nosso país. Imunizar o povo do vírus, não é urgente! Vidas não importam, nossas opiniões, não importam, as leis não importam.Só me pergunto até quando vamos apena nos indignar e continuar essa aceitacao. Atos são necessários, nossa Constituição não pode se tornar uma colcha de remendos que proteja apenas quem oprime e despreza o povo, devemos fazer valer cada direito ali criado, para o bem de nossa Nação e em favor não apenas de nossa frágilidade como povo, mas de cada cidadão, cada vida e sobretudo respeitar os Direitos Humanos
Denise de Oliveira
01/03/2021 @ 13:03
Obrigada Pedro; muito importante o seu texto como um resumo detalhado de situações de morte com o maior descaso, qual estamos vivendo em nosso país. É para ficamos sim indignados; não podemos nos conformar. E também fico a pensar, (não sei se no pequeno universo qual talvez eu esteja limitada de conhecimento ou não?), é coincidência ou faz parte de toda esta negativa, propagação para a morte; membros da Igreja no Brasil se unirem para esta mensagem que propaga a morte? Junto da situação política do Brasil?