MENOS ÔNIBUS, MAIS AGLOMERAÇÃO, PAGANDO MAIS PARA AS EMPRESAS: essa é a fórmula da Prefeitura para combater a pandemia em São Paulo?
Lucio Gregori
A pandemia no Brasil atingiu o mais alto nível de transmissão do vírus Sars-Covid-2 e letalidade nos últimos dias, a partir de meados de fevereiro. Apesar da bravura dos trabalhadores do SUS, o fato é que os leitos hospitalares de UTI estão em nível perto dos 100% de ocupação. A vacinação é lenta, faltam vacinas para rapidamente reduzir os casos e as mortes.
A aglomeração das pessoas é uma das maiores causas dessa transmissão. Muitas aglomerações acontecem em festas, bares, na rua mesmo. Mas um tipo de aglomeração é causado pela falta de ônibus das linhas de transporte urbano em São Paulo. As pessoas não se aglomeram nos ônibus porque querem.
As pessoas se aglomeram porque precisam entrar nos ônibus e a frota está reduzida por responsabilidade da Prefeitura de São Paulo, que prefere pagar por serviço não prestado a reduzir as aglomerações nos ônibus.
O que está acontecendo?
1. Desde o início da pandemia a Prefeitura retirou ônibus das ruas, justificando isso pela queda do número de passageiros. A frota chegou a 60% do normal e os dados apontam que atualmente há apenas 88% dos ônibus rodando na cidade. Isso significa há aproximadamente 1600 ônibus PARADOS nas garagens.
2. Por outro lado, os dados da remuneração das empresas que prestam o serviço mostram que, no primeiro momento da pandemia, o gasto da Prefeitura caiu, em abril e maio de 2020. Mas, estranhamente, esse valor, que era de 630 milhões em janeiro de 2020, antes da pandemia, quando a frota estava rodando normalmente, passou a ser de R$ 700 milhões em dezembro de 2020 – mesmo com a queda da frota e de passageiros.
3. Assim, a frota diminuiu, mas os gastos aumentaram. Estranhamente, a Prefeitura passou a pagar as empresas pelos ônibus PARADOS, alegando dificuldades das empresas e risco de demissões de trabalhadores.
4. Isso é o que de pior poderia acontecer: os ônibus e os trabalhadores parados, as pessoas aglomeradas nas linhas e a Prefeitura gastando mais do que antes da pandemia!
É urgente que a Prefeitura tome providências para mudar imediatamente essa situação. Como?
1. Colocando para rodar TODA a frota disponível. Mais: a Prefeitura, através da SPTrans, sabe quais as linhas e horários de maior aglomeração. A frota deve ser aumentada e redistribuída conforme a necessidade.
2. Pagando para as empresas não para que mantenham ônibus e trabalhadores parados. Ao contrário, pagar requer prestação de serviço. Toda a frota na rua. Aliás, os trabalhadores, motoristas e cobradores devem ser imediatamente vacinados para que trabalhem sem risco. Vacinados, nenhum trabalhador quer receber sem trabalhar.
3. Suspender o pagamento da remuneração da capital e do lucro das empresas – que é de 9,1% ao ano acima da inflação, remuneração que supera qualquer aplicação financeira no país hoje. As empresas devem contribuir com a sua parte para o combate à pandemia.
4. A prefeitura, ao pagar cada vez mais por menos serviço recorreu a uma fonte de receita a partir de 2021: o bolso dos idosos de mais de 60 anos, até 65 anos. Além de fazer parte do grupo de risco, viajam de ônibus para chegar ao trabalho, quando têm emprego ou aos serviços de saúde. Mais a Prefeitura acabou pagando a frota PARADA com o bolso dos idosos! É preciso suspender o pagamento por frota parada e a cobrança destes idosos.
5. Estamos em guerra com o vírus. A operação dos ônibus é essencial. A Prefeitura não pode tratar essa situação como “normal”. É fundamental que os ônibus rodem melhor e mais rápido. Menos aglomeração e por menos tempo. Para isso, colocar todo o contingente da CET e da PM que opera o trânsito para operar os corredores e faixas exclusivas, abrindo cruzamentos, permitindo ultrapassagens etc. Mais operação também significa mais oferta de ônibus.
Cada ônibus parado na cidade significa mais pessoas expostas ao vírus por aglomeração. Significa mais casos e mais mortes. É um absurdo. A Prefeitura e as empresas de ônibus precisam participar deste esforço. Não será possível contar, infelizmente, por longo tempo ainda, com a vacina.