Da cooperação à autogestão
Pierre Yvin
Éditions ICEM – Pédagogie Freinet
Tradução de Xavier Van Welden
Revisada por Ruth Joffily
Da cooperação à autogestão
(Capítulo 6)
É na escola de educação infantil que a autogestão se origina. E, embora o papel do adulto seja grande nesse nível, a criança assume uma parte do poder no plano da atividade. O “poder está na ponta do pincel” quando ela está no ateliê de pintura.
No editorial de L’Imprimerie à l’École10 no 50 de março de 1932, Freinet escreve: “… Teoricamente, se ela é entendida como um meio prático para crianças se organizarem livremente e gerirem os seus próprios interesses, e até mesmo melhorarem suas condições de trabalho, será que a cooperativa não seria completamente recomendável e que poderíamos verdadeiramente saudar essa iniciativa como uma tentativa prática de realizar a auto-organização dos alunos?”.
E Freinet liga o seu trabalho a um projeto cooperativo, em Bar-sur-Loup, ao lado de operários e de camponeses (a cooperativa Abeille Baroise) e também a um projeto político.
Num lugar onde uma cooperativa escolar estatutariamente organizada não pode viver, “é dever do professor entregar a economia e a atividade da classe entre as mãos das crianças, orientá-las em direção a uma colaboração comunitária segundo as técnicas novas que preconizamos, primeira etapa vital da cooperação escolar, que desabrochará um dia em todas as escolas libertadas pela libertação do proletariado”.
A autogestão supõe, previamente, uma empresa a ser gerida e que será gerida em comum. Essa questão não se limita a algumas fórmulas disciplinares.
Freinet é um precursor da autogestão. “Nossa pedagogia, escrevia ele em 1931, busca abraçar todas as forças da educação e do ensino. Ela recusa ser fixa e perfeita, mas ela pretende ser eminentemente maleável e pronta para qualquer evolução para melhor.”
Essa organização, baseada na autogestão, avançou desde a modesta escola de Bar-sur-Loup e as inovações levadas por Freinet frequentemente permitiram introduzir na escola os modelos da autogestão.
O que é a autogestão pedagógica?
(Capítulo 7)
A autogestão pedagógica pode ser definida como um sistema de educação de estilo comunitário no qual o grupo gerencia as atividades e a vida da classe. É o grupo que, depois de ter experimentado, decide sobre as técnicas, as formas de trabalho, o ritmo de trabalho, que elabora e aplica o seu programa de trabalho, participando assim da sua autoformação.
No seio dessa organização comunitária, cada membro deve se realizar segundo as suas tendências.
Além das ferramentas e das técnicas, colocaremos um elemento preponderante: o adulto, o professor. Elemento preponderante, pois a classe é um lugar artificial de onde não podem surgir naturalmente projetos individuais ou coletivos. Como a nossa pedagogia é baseada no trabalho (no sentido de atividade), o grupo de crianças ou de adolescentes deverá se organizar para levar a cabo as tarefas escolhidas, mas, antes, o adulto terá que criar uma dinâmica para que nasçam os projetos. Eliminaremos, portanto, o mito do mestre-camarada, pois é ele quem vai tomar a decisão e usar a sua autoridade para “colocar a classe em autogestão”. É ele quem vai tomar a palavra primeiro para lembrar as exigências da instituição externa, expressar o porquê da sua atitude e os limites da sua intervenção. Ele espera do grupo que este se organize e defina os seus objetivos e os seus sistemas de regulação. O adulto participará das discussões, responderá se for perguntado, mas também fará propostas que poderão não ser aceitas.
Caberá ao adulto fazer com que o meio seja o mais rico possível, pois “não se organiza o vazio”.
É o adulto que condiciona a evolução do grupo, de acordo com o que ele próprio é naturalmente em suas relações e também nas suas relações com as crianças. Ele sabe ser disponível, estar à escuta dos outros a fim de saber as suas motivações profundas, de entender o seu comportamento, de responder à sua demanda ou à sua expectativa. Ele pode propor diferentes modelos de organização ou de funcionamento, mas, afinal, é o grupo que, depois de experimentar, decide sobre as normas de trabalho e elabora seu estilo de vida.
Como é apenas progressivamente que as responsabilidades vão sendo assumidas, uma primeira etapa consiste em liberar a expressão, através de um clima de escuta e de compreensão, favorecer a comunicação pela implementação de atividades que respondam às necessidades elementares e naturais da criança.
Mas toda estrutura, toda atividade, toda forma de organização, só tem valor libertador se for aprovada, assumida pelo grupo, e se este puder questioná-la. Aliás, quando o grupo assume seu modo de vida e de trabalho, faz evoluir inevitavelmente as técnicas, que não podem ser impostas de acordo com as normas ou os modos de pensar do adulto. A organização do grupo, em si libertadora, deve permitir a cada um dos membros manifestar o seu interesse na vida e sob a forma que lhe convém. O clima de ajuda mútua, de amizade e de colaboração, que deve resultar de tal organização, favorece uma educação do trabalho. Este encontra então a sua verdadeira significação: é livremente escolhido. Do mesmo modo, tal clima leva a novas conquistas, entre as quais o conhecimento está longe de ser excluído.
Aprender a se tornar homens livres e responsáveis começa na escola, no seio de uma comunidade que o indivíduo serve e que o serve.
A autogestão pedagógica situa-se num projeto de sociedade, na hipótese de que, apenas seres autônomos e libertados saberão construir a sociedade livre que atenderá às suas necessidades profundas de homens.