A burocratização nas instituições e a naturalização dos “absurdos”
Por Waldir Augusti
Chico querido e demais companheiros/as,
Fiz atenta leitura do relato que você escreveu sobre sua reunião com os procuradores.
Pude sentir certa decepção de sua parte frente à burocratização nas instituições e a naturalização dos “absurdos” praticados por nossa sociedade, sobremaneira os que têm o poder de manipulação bem estruturado, a ponto de convencer as pessoas em geral, de que são obrigados a aceitar as mazelas da vida.
Querido amigo, quem sou eu para lhe dizer algo em relação aos seus sentimentos e suas conclusões. Sou apenas um eterno aluno de seus ensinamentos.
Contudo, por nossa amizade e com todo respeito devido, ouso lhe dizer: não desanime.
Novembro se aproxima e com ele o dia em que celebraremos seus 90 anos (grande parte deles ao lado de sua amada Stella) de esperança, força, coragem, determinação e acima de tudo, compromisso com a verdade e a justiça.
Nossa campanha Ô Ministério Público, Denuncia Já!, como você mesmo afirmou, pode ser o pano de fundo de nossas ações. Eu, porém, não chamaria de pano de fundo, mas de “Bandeira de nossas lutas”, sobre a qual insistiremos em depositar nossa crença de que uma país livre deste desgoverno é possível.
Como fazer isso? Você já deu as respostas.
Fiquei muito feliz ao observar sua menção às “Minorias Abraâmicas” propostas por Dom Helder, cujo registro encontra-se no livro de sua autoria “O Deserto é Fértil”.
O que são as minorias Abraâmicas, deixo a resposta ao próprio Dom Helder, que transcrevo a seguir:
“Em todas as partes existem já minorias capazes de compreenderem a Ação, a Justiça e a Paz. A estas minorias nós chamamos as “minorias abraâmicas”, porque, como Abraão, esperam contra toda esperança.
Julgas que estás só? Olha para os que estão à tua volta. Fala com os teus amigos. Dialoga com os da sua família, com os teus companheiros de estudo, de trabalho, com os teus amigos dos momentos livres. Terás a surpresa de descobrir que a tua “minoria abraâmica” já existe. E tu não o sabias …
A tua “minoria abraâmica” necessita talvez de um espírito lúcido, de alguém com experiência para iluminar os primeiros passos, para assegurar o começo dos estudos, da reflexão, da ação. Esse alguém já existe, só falta encontrá-lo.
Quando as minorias abraâmicas do Terceiro Mundo se sintam autenticamente solidárias e, sobretudo, quando forem acolhidas fraternalmente pelos países desenvolvidos, a humanidade terá dado um importante passo no caminho da paz.
Uma descoberta maravilhosa O essencial a transmitir é descoberta maravilhosa: em todos os recantos da terra, dentro de todas as raças, todas as línguas, todas as religiões, todas as ideologias, há criaturas que nasceram para dedicar-se, para gastar-se ao serviço do próximo, dispostos a não medir sacrifícios para ajudar de verdade e enfim a construir um mundo mais justo e mais humano.”
Como podemos observar, já somos uma minoria abraâmica, cercada por outras tantas que ainda não sabem que são. Onde elas estão?, Em meu entendimento, justamente nas bases dos movimentos sociais, dos movimentos de classes, de pequenos grupos organizados, nas escolas de cidadania, no Candeeiro, no Núcleo Todos pelo bem Comum, nas vítimas e nas famílias da vítimas do Covid-19, na Avico, nas entidades que assinam conosco a nossa carta… e que, talvez, ainda não se reconhecem com uma minoria abraâmica.
Minorias essas, que como conversamos em nossa última reunião, precisam ser despertadas para sua verdadeira força.
Penso, que somos nós, hoje, (com toda humildade) o Exército de Brancaleone. Montados em nossos pangarés, acreditamos ser capazes de transformar a triste realidade em que vivemos.
Dom Helder nos ensinava a ESPERANÇAR. Dom Paulo nos ensinava a seguir em frente DE ESPERANÇA EM ESPERANÇA.
Vamos trazer para o presente a esperança de um futuro melhor, conjugando o verbo Esperançar no futuro do presente:
eu esperançarei – tu esperançarás – ele esperançará
nós esperançaremos – vós esperançareis – eles esperançarão
Avante companheiro. Tua presença é para nós, motivo para ESPERNAÇAR.
Amo você.
Shalom!
PS. Perdoe a minha ousadia em escrever estas palavras.