A MÁGICA DOS MILHÕES: Como candidatos chegam a campanhas de 15, 50 e até 200 milhões no Brasil e quem realmente paga essa conta
Fonte: CPI News
Por Antônio Fernando da Silva* e Rodrigo Vitor Gomes**

Por trás dos discursos sobre democracia, cidadania e representação, existe uma engrenagem silenciosa, poderosa e muitas vezes ilegal que move as campanhas eleitorais no Brasil. É uma máquina que consome milhões em poucas semanas e que transforma o processo eleitoral em um negócio lucrativo para alguns e devastador para a democracia para muitos.
Em um país onde boa parte da população sobrevive com pouco mais de um salário mínimo, a pergunta é inevitável e necessária: como um candidato a deputado estadual, federal, senador ou governador consegue gastar 15 milhões, 50 milhões ou até 200 milhões em apenas uma campanha eleitoral?
A resposta não está em mágica, mas sim em um sistema alimentado por interesses econômicos, acordos políticos obscuros e relações históricas de poder.
1. A INDÚSTRIA DAS CAMPANHAS: UM MERCADO BILIONÁRIO
O Brasil criou, ao longo de décadas, uma verdadeira indústria em torno das eleições.
Cada campanha é tratada como um grande projeto comercial.
Legalmente, já exige:
- equipes de comunicação e marketing
- advogados eleitorais especializados
- produção audiovisual profissional
- impulsionamento de redes sociais
- aluguel de comitês e carros
- viagens, hospedagens, reuniões
- cabos eleitorais
- programações de TV e rádio
Todos esses itens, somados, consomem milhões de reais mesmo em campanhas “modestas”.
Mas isso é apenas a superfície.
2. O SUBMUNDO ELEITORAL: COMPRA DE VOTO E A “ESTRUTURA” QUE NINGUÉM DECLARA
Em várias regiões do país, particularmente no Nordeste, Norte e interior do Brasil, ainda persiste uma prática que se mascara sob nomes elegantes como “estrutura”, “ajuda”, “mobilização”.
Na prática, envolve:
- compra direta de votos
- distribuição de cestas básicas
- gasolina para eleitores
- pagamento de influenciadores locais
- transporte clandestino de multidões
- promessas de emprego
- “ajudas” de urgência
Tudo isso alimentado por dinheiro que não passa pelo sistema oficial de prestação de contas.
Não é exagero afirmar que, em muitas cidades, o voto tem preço. E onde existe demanda, existe oferta e dinheiro.
3. QUEM BOTA DINHEIRO NÃO É O CANDIDATO É QUEM QUER ALGO EM TROCA
Por trás dos grandes nomes das chapas estaduais e federais existe sempre uma constelação de empresários, grupos políticos, caciques regionais, donos de empresas de lixo, ônibus, transporte escolar, construtoras, empresas de internet, segurança privada e prestadores de serviços ao governo.
Eles apostam como quem investe na bolsa. E quem investe, espera retorno.
Ninguém coloca 10, 20 ou 50 milhões numa campanha porque gosta do candidato. Coloca para garantir contratos, influência, favores e poder.
É assim que um prefeito vira aliado de deputado.
É assim que um deputado vira aliado de governador.
É assim que um empresário domina licitações inteiras.
A política vira um negócio.
4. O CÁLCULO DO INVESTIMENTO: O RETORNO É MAIOR QUE O CUSTO
Um candidato a deputado estadual pode controlar milhões em emendas.
Um candidato a deputado federal movimenta cifras ainda maiores.
Um senador tem o poder de indicar cargos e influenciar decisões de impacto nacional.
E um governador administra orçamentos bilionários todos os anos.
Enquanto isso, grandes contratos públicos lixo, saúde, obras, educação, transporte continuam sendo as joias da coroa para grupos empresariais que há décadas orbitam o poder.
É simples:
Quem investe 50 milhões numa campanha quer recuperar 500 milhões em contratos, influência ou decisões políticas futuras.
É uma lógica empresarial, não democrática.
5. PARTIDOS ALIMENTAM O SISTEMA: QUEM TRAZ DINHEIRO TEM PRIORIDADE
O financiamento público, criado para moralizar as eleições, acabou reforçando um paradoxo:
os partidos passaram a distribuir recursos não para quem tem melhores propostas, mas para quem tem mais poder político, mais padrinhos e, principalmente, mais dinheiro externo interessado.
Não é segredo que:
- candidatos ricos têm preferência
- quem já tem mandato leva mais fundo eleitoral
- quem atrai empresários domina a máquina partidária
Com isso, o sistema se retroalimenta: quem tem dinheiro vence, e quem vence controla mais dinheiro.
6. O ELEITOR PAGA A CONTA SEM SABER
A população paga em:
- serviços públicos precários
- obras superfaturadas
- contratos milionários sem fiscalização
- corrupção endêmica
- falta de investimentos em saúde e educação
- desigualdade crescente
E paga com algo ainda mais caro: a perda de esperança e confiança na política.
7. PODE MUDAR? SIM MAS A MUDANÇA NÃO É FÁCIL
Reformar esse sistema exige:
- educação política
- fortalecimento da fiscalização
- transparência radical nos contratos públicos
- campanhas mais baratas
- punição rápida e efetiva
- participação popular
- partidos que priorizem projetos e não fortunas
Mas nada disso funciona sem pressão popular constante.
CONCLUSÃO
Os valores milionários de campanhas políticas no Brasil não são fruto de mágica, mas de um sistema que transforma votos em moeda, candidatos em investidores e mandatos em oportunidades de lucro.
Enquanto o voto for tratado como mercadoria e a política como negócio, campanhas de 15, 50 ou 200 milhões continuarão sendo apenas o início de uma conta que, no fim das contas, quem paga é o povo.
* Antônio Fernando da Silva (Fernando CPI) – Registro jornalista: 0002099/AL – MTE Brasil
**Rodrigo Vitor Gomes – Registro jornalista: 0002174/AL
